Transhumanismo e pós-humanismo
o colapso da humanidade
Resumo
O movimento transhumanista vislumbra, por meio de transformações tecnológicas operadas sobre os seres humanos, a perspectiva de um futuro potencialmente pós-humano. A proposta do movimento transhumanista tem por objetivo, portanto, empregar toda a tecnologia possível para permitir que seres humanos transcendam suas capacidades naturais, o que, em princípio, propiciará o surgimento de uma nova categoria de entes artificialmente aperfeiçoados em relação às limitações que naturalmente demarcam a condição humana. A partir da análise dos possíveis biomelhoramentos que podem incidir sobre o organismo humano, e sobretudo mediante a verificação da intensidade dos respectivos efeitos, é possível identificar duas vias distintas para o transhumanismo, tomada a expressão lato sensu: uma, de viés mais moderado, que propõe o emprego de tecnologias avançadas que visem ao aprimoramento das capacidades humanas; a outra, de caráter mais radical, sugere não apenas a superação de determinadas habilidades humanas, mas a superação da própria condição humana. No primeiro caso, fala-se em um transhumanismo stricto sensu, que preserva a essência das características humanas, ainda que as amplie. No derradeiro, manifesta-se a perspectiva pós-humanista, que pode representar uma ruptura definitiva com todas as qualidades que demarcam a condição humana. O objetivo deste trabalho é o de verificar se o transhumanismo, sobretudo em sua vertente pós-humanista, é capaz de colocar em xeque a própria condição humana, tal como a conhecemos. Ao final, conclui-se que é possível distinguir, dentre os propósitos transhumanistas, aqueles que são condizentes com a preservação da pessoa e de sua dignidade e aqueloutros que, de modo diverso, podem provocar uma grave ruptura da própria natureza humana.
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